domingo, 26 de novembro de 2023

Uma adaptação "cristã" da Revolução Comunista: Breve análise do livro fundador da Teologia da Libertação na América Latina

                                                                                    Por Natan Costa Rodrigues


Na década de 70, o padre peruano Gustavo Gutiérrez Merino, soltou o catinguento Teología de la liberación. Perspectivas (Teologia da Libertação. Perspectivas)[1], onde, conforme se defende, ele fundou e teorizou as bases da chamada Teologia da Libertação. O texto viera à tona após um longo período de reflexões e experiências entre pessoas comprometidas com o ideal de libertação da América Latina.

O livro é composto de quatro seções, nas duas primeiras, se tenta justificar teoricamente a Teologia da Libertação, e depois segue para desdobramentos práticos das questões “teológicas”. Interessa-nos, especialmente, as duas primeiras seções, assim nomeadas: I – Teologia e Libertação e II – Colocação do Problema. 

A fim de remir o tempo, e mesmo para poupar os leitores de uma paisagem insólita, hostil e improdutiva encontrada em cada página do escrito em questão, resolvi elencar os pontos principais dessa “Teologia”, seguidas das contraposições Cristãs e bíblicas.


1.               Conceito e Objetivo - A Teologia da Libertação busca explicitamente a libertação econômica da América Latina retirando-a do seu status de subdesenvolvimento. A palavra “libertação”, portanto, não se refere a libertação da alma humana do poder do “Pecado”, mas sim à libertação social dos “povos pobres, espoliados e oprimidos” a partir de um movimento político e revolucionário. Este propósito, que nada tem de teológico, é visivelmente apenas a importação das maníacas ideias e ideais dos comunistas para dentro da Igreja, isto é, trata-se de uma clara tentativa de aparelhamento da Teologia e da Igreja para os fins revolucionários[2].

 

2.               Conceito de Teologia – É de conhecimento geral que a sadia Teologia Cristã objetiva ao estudo de Deus e da sua Obra etc., mas aqui na escola da Libertação, a Teologia é a “...reflexão crítica da práxis histórica”, e “...um pensamento crítico de si mesmo, de seus próprios fundamentos”[3].

 

Esse conceito suscita questões. Afinal, por quais artifícios demoníacos, a Teologia deixou o seu sagrado ofício de pensar e estudar sobre a Divindade para ir ocupar-se das banais ações humanas na história? Acompanhe então como o negócio foi descendo ladeira abaixo:

 

a)     Em primeiro lugar a Teologia foi definida, não pelo seu objeto etimológico, mas sim como uma atividade humana voltada a “inteligência da fé”. O jogo de palavras sedutor, leva o teólogo a retirar os olhos de Deus e a voltá-los para a sua própria ação, emburrecendo a sua fé.

 

b)     A Teologia torna-se antropocêntrica e isso de forma explícita. Cita, o autor, com grande entusiasmo, o adágio de K. Barth: “o homem é a medida de todas as coisas, uma vez que Deus se fez homem”. Obviamente que tudo isto é de uma tolice sofrível. Deus se fez homem, mas não deixou de ser Deus. Assim para desfazer este primeiro engodo, basta recolocar no centro da Teologia, o seu legítimo objeto de estudo: Deus e a sua obra.

 

c)     Mas se a suposta “teologia” significa apenas o estudo da ação humana na história, segue-se que ela não é nada mais que uma atividade secular, dessacralizada e, portanto, divorciada de suas funções espirituais. A Teologia é esvaziada de suas missões clássicas e ortodoxas e passa a ser um mero eco do Marxismo. É por isso que o charlatão em pauta, proclama que a Teologia deve levar em conta na sua análise os “...condicionamentos econômicos e socioculturais da vida”[4].

 

d)     Em outras palavras, a Teologia deve incorporar o Materialismo Histórico e Dialético marxista, como método de análise teológico. Transforma-se a Teologia numa crítica da sociedade e da própria Igreja. A Teologia se volta contra a Religião.

 

e)     Como consequência, se funda uma nova hermenêutica teológica totalmente antibíblica. Note-se que a hermenêutica genuinamente cristã parte da Escritura. É a Escritura que narra os fatos teológicos ao teólogo cristão. É a Bíblia que fixa o objeto e o ângulo da análise teológica e, portanto, as circunscrições do pensar teológico. O teólogo bíblico faz Teologia a partir da Bíblia e não contra ela. Na absurda hermenêutica da Teologia da Libertação, o suposto teólogo se ocupa dos fatos sociais e dos conflitos de classes, mas não dos fatos bíblicos. Não há, em suma, verdadeira Teologia, mas apenas uma teologia de fachada, para legitimar dentro da Igreja a Revolução Cultural Comunista.

 

f)      A seguir, a ação humana é revestida de um caráter escatológico: o homem dá sentido à história quando age para transformar (práxis) o "injusto" mundo em que vive, ou seja, a “redenção” do mundo cabe à ação revolucionária do homem[5].

 

g)     A propaganda comunista veiculada na Teologia da Libertação ensina ainda, com certo otimismo que, por meio dessa ação humana, o homem materializa o Reino de Deus na Terra. Resumindo em miúdos, para o milicrente revolucionário libertino a Grande Comissão não tem nada a ver com pregar o Evangelho de Salvação a toda criatura, mas sim com a militância política em prol da causa comunista.

 

h)     A Bíblia, ao contrário da cosmovisão da Teologia da Libertação, adverte que o mundo jaz no maligno[6], e que a Deus pertence o controle da história, dos seus tempos e estações[7]. É Deus, como Criador, que estabelece os rumos da História, bem como o sentido do seu percurso.

 

i)      Por fim se diz que enquanto a igreja seguia a ortodoxia cristã, não teria feito nada de proveitoso para alcançar um mundo melhor. Por esse motivo, o teólogo da libertação postula uma tal ortopraxia como novo paradigma de ação eclesiástica. Como age de má-fé um sujeito desses: o mundo atual, democrático, próspero e civilizado, é exatamente o fruto social do Cristianismo fundado na ortodoxia. Todos os bons valores que hoje são defendidos e existem, surgem da ortodoxia cristã. É esse mesmo mundo que eles querem destruir a todo custo. 

Agora que ficou entendido que na Teologia da Libertação só é possível ter como objeto a “...reflexão crítica da práxis histórica”, exatamente porque não há Teologia alguma, vamos avançar para analisar como fica a questão do pecado.

 

3.               O Pecado e o Amor - A palavra “pecado” foi meticulosa e estrategicamente evitada e, quando finalmente apareceu na página 42, foi somente para receber, assim como aconteceu com a Teologia, o seu novo conceito. Outrora significava “errar o alvo, desobedecer à vontade de Deus”, mas dentro da Teologia da Libertação, o pecado “...é um fechamento egoístico em si mesmo. Pecar é, com efeito, negar-se a amar os demais, por conseguinte, ao próprio Senhor". Uma vez livre desse pecado, o suposto cristão é livre para amar, não somente o que é bom, como também tudo o que há no mundo[8].

 

4.               É óbvio que esse risível conceito de pecado não serve como descritivo da realidade do pecado. Mas vejamos melhor as suas partes:

 

a)     Primeiro, ele se baseia supostamente no amor. Mas esse “amor” não é o perfeito amor cristão, que é essencialmente o amor ao que é bom, e logicamente, o ódio ao que é mal (Vide Pv. 8:13). Amamos o nosso próximo porque ele é a boa imagem e semelhança divina e, odiamos as condutas más, sejam nossas ou do nosso próximo, precisamente porque não são boas.

 

b)     O amor desejado na Teologia da Libertação é irresponsável e libertino, não se harmoniza com o perfeito amor. O amor ágape, divino e perfeito, exige o cumprimento dos seus deveres: “Aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele.” João, 14:21.

 

c)     O pecado de não amar ao próximo, de fato, é a raiz de muitos males, mas até uma criança sabe que amar o outro não significa aceitar os seus erros e nem compactuar com eles. Não há nenhuma boa intenção nesse tipo de amor. O “amor” da Teologia da Libertação não tem compromisso com a obediência à Palavra de Deus, precisamente, porque não tem amor pela Lei de Deus.

 

d)     A verdade é que esse discursinho meloso de amor, esconde a mais perversa sede de poder e totalitarismo. No fundo os teólogos da libertação odeiam e censuram aqueles que não concordam com as suas ilusões.

 

e)     Por fim, esse amor não é direcionado propriamente ao próximo e a Deus, mas sim à causa revolucionária. Ocorre na Teologia da Libertação uma substituição dos objetos amados. No amor bíblico, se ama à Deus e ao próximo, mas na Teologia da Libertação, amar a Deus e ao próximo é estar comprometido com a Revolução. O ódio bíblico é direcionado a todo tipo de pecado e maldade, mas o ódio na Teologia da Libertação se volta contra tudo aquilo que é contra a Revolução.

 

f)      O amor à causa Comunista é tão grande que tudo lhe é submetido: Deus, a Bíblia, a Teologia, o Cristianismo etc., tudo, absolutamente tudo, por causa do amor ao Comunismo deve falar a língua da Revolução e se submeter a ela.

 

g)     Esse falso amor busca arregimentar o outro, apenas, para militar na causa comunista e, como a prioridade é ter militantes, pouco importa a condição espiritual daquele a quem se busca. Aliás, quanto mais degradado o militante estiver, tanto mais será eficaz na luta pela causa.

 

5.               Conclusões – Inicialmente, quanto à leitura do livro, só é recomendada como teste para averiguar a sanidade mental: se você conseguir discordar de cada uma das ideias absurdas expostas ali, a sua mente estará em um juízo aceitável.

 

6.                A Teologia da Libertação, ao fim das contas, não tem nada de Teologia e muito menos de Libertação. É pura e simplesmente o velho e moribundo Marxismo adornado com alguns termos religiosos para lhe dar alguma deferência. Como construção científica, lógica ou filosófica, a pretensa teologia tem a consistência de uma bolha de sabão.

 

7.               Ela não busca nenhum objetivo genuinamente cristão: não busca a salvação da alma humana do poder do pecado; não exige o novo nascimento; nem arrependimento sincero; não exige santidade aos crentes; transforma a Grande Comissão em campanha revolucionária comunista e dessacraliza a Obra de Deus[9].

 

8.               É uma peça de propaganda comunista, no sentido mais esculhambado do termo. Ela entra em conflito permanente e inconciliável com o texto bíblico, não havendo outra saída aos seus sectários senão pinçar os textos da Escritura que lhes agradem e distorcer os demais.

 

9.               Quanto aos pastores, padres e teólogos que são levados por essa ideologia, eles abandonam o ofício sagrado que o Senhor lhes incumbiu, e tornam-se simples militantes de uma causa que já tragou a vida de mais de 100 milhões de pessoas mundo afora.

 

10.            De resto, não há como entender esse tipo amor que é pregado na Teologia da Libertação. Amor que, quando se concretiza, mata, persegue, fecha igrejas, e comete outras tantas atrocidades. Em verdade, a única forma de o compreender, ao fim, é como um amor pelo avesso, o mesmo amor com que um demônio amaria.

 

11.            Que Deus liberte definitivamente o Brasil da Teologia da Libertação.



[1] GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação. Perspectivas. 6ª Ed. Trad. Jorge Soares. Vozes, Petrópolis. 1986.

[2] Nesse sentido: “Seja como for, de fato, a teologia contemporânea acha-se em inesquivável e fecunda confrontação com o marxismo. E em grande parte estimulado por ele é que, apelando para suas próprias fontes, orienta-se o pensamento teológico para uma reflexão sobre o sentido da transformação deste mundo e sobre a ação do homem na história”, p. 22.

[3] Note-se que “um pensamento crítico de si mesmo e de seus próprios fundamentos” não é tarefa teológica, e sim filosófica. A Teologia estuda Deus e a história da salvação. A crítica radical teológica não pode ser feita pela própria Teologia, pois a Teoria da Ciência é eminentemente filosófica, vide HUSSERL, Edmund. Investigações Lógicas. Prolegômenos à Lógica Pura. Vol. 1. Trad. Diogo Ferrer. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

[4] Nesse mesmo sentido Gustavo Gutiérrez aduz: “Teologia que não se limita a pensar o mundo, mas procura situar-se como um momento do processo através do qual o mundo é transformado”. Isto é descaradamente o objetivo da própria Filosofia marxista segundo a qual “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Vide, MARX, Karl. Teses Sobre Feuerbach. Disponível em:  https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm

[5] Tal fato implica em uma nova concepção da História, conforme se percebe aqui: “Conceber a história como processo de libertação do homem é perceber a liberdade como conquista histórica, é compreender que a passagem de uma liberdade abstrata a uma liberdade real não se realiza sem luta (...) contra tudo o que oprime o homem. Este fato implica não apenas melhores condições de vida, radical mudança de estruturas, revolução social, mas muito mais: a criação contínua e sempre inacabada de nova maneira de ser do homem, uma permanente revolução cultura”, p. 40.

[6] 1 Jo 5:19 Estamos cientes de que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno.

[7] Atos 1:7: “Ele lhes afirmou: “Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai estabeleceu por sua exclusiva autoridade.

[8] A Bíblia rechaça textualmente esse tipo de “amor”, em 1Jo 2: 15-17: “Não ameis o mundo nem o que nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo: as paixões da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens não provém do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, assim como sua volúpia; entretanto, aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente.

[9] No tópico denominado “O nível da reflexão teológica”, podemos constatar o quanto este nível é baixo, ali, por exemplo, lemos um verdadeiro louvor ao secularismo: “Neste sentido, a secularização (...) é um processo que não apenas se amolda perfeitamente a uma visão cristã do homem, da história e dos cosmos, mas ainda favorece maior plenitude da vida cristã, na medida em que oferece ao homem a possibilidade de ser mais plenamente humano”, p. 65.

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