Por Natan Costa Rodrigues
Na década de 70, o padre peruano Gustavo Gutiérrez Merino, soltou o catinguento Teología de la liberación. Perspectivas (Teologia da Libertação. Perspectivas)[1], onde, conforme se defende, ele fundou e teorizou as bases da chamada Teologia da Libertação. O texto viera à tona após um longo período de reflexões e experiências entre pessoas comprometidas com o ideal de libertação da América Latina.
O livro é composto de quatro seções, nas duas primeiras, se tenta justificar teoricamente a Teologia da Libertação, e depois segue para desdobramentos práticos das questões “teológicas”. Interessa-nos, especialmente, as duas primeiras seções, assim nomeadas: I – Teologia e Libertação e II – Colocação do Problema.
A fim de remir o tempo, e mesmo para poupar os leitores de uma paisagem insólita, hostil e improdutiva encontrada em cada página do escrito em questão, resolvi elencar os pontos principais dessa “Teologia”, seguidas das contraposições Cristãs e bíblicas.
1. Conceito e Objetivo - A Teologia da Libertação busca explicitamente a libertação econômica da América Latina retirando-a do seu status de subdesenvolvimento. A palavra “libertação”, portanto, não se refere a libertação da alma humana do poder do “Pecado”, mas sim à libertação social dos “povos pobres, espoliados e oprimidos” a partir de um movimento político e revolucionário. Este propósito, que nada tem de teológico, é visivelmente apenas a importação das maníacas ideias e ideais dos comunistas para dentro da Igreja, isto é, trata-se de uma clara tentativa de aparelhamento da Teologia e da Igreja para os fins revolucionários[2].
2.
Conceito
de Teologia – É de conhecimento geral que a sadia
Teologia Cristã objetiva ao estudo de Deus e da sua Obra etc., mas aqui na
escola da Libertação, a Teologia é a “...reflexão crítica da práxis histórica”,
e “...um pensamento crítico de si mesmo, de seus próprios fundamentos”[3].
Esse conceito suscita questões. Afinal, por quais artifícios
demoníacos, a Teologia deixou o seu sagrado ofício de pensar e estudar sobre a Divindade
para ir ocupar-se das banais ações humanas na história? Acompanhe então como o
negócio foi descendo ladeira abaixo:
a)
Em
primeiro lugar a Teologia foi definida, não pelo seu objeto etimológico, mas
sim como uma atividade humana voltada a “inteligência da fé”. O jogo de
palavras sedutor, leva o teólogo a retirar os olhos de Deus e a voltá-los para
a sua própria ação, emburrecendo a sua fé.
b)
A
Teologia torna-se antropocêntrica e isso de forma explícita. Cita, o autor, com
grande entusiasmo, o adágio de K. Barth: “o homem é a medida de todas as
coisas, uma vez que Deus se fez homem”. Obviamente que tudo isto é de uma
tolice sofrível. Deus se fez homem, mas não deixou de ser Deus. Assim para
desfazer este primeiro engodo, basta recolocar no centro da Teologia, o seu legítimo
objeto de estudo: Deus e a sua obra.
c)
Mas se
a suposta “teologia” significa apenas o estudo da ação humana na história,
segue-se que ela não é nada mais que uma atividade secular, dessacralizada e,
portanto, divorciada de suas funções espirituais. A Teologia é esvaziada de
suas missões clássicas e ortodoxas e passa a ser um mero eco do Marxismo. É por
isso que o charlatão em pauta, proclama que a Teologia deve levar em conta na
sua análise os “...condicionamentos econômicos e socioculturais da vida”[4].
d)
Em
outras palavras, a Teologia deve incorporar o Materialismo Histórico e
Dialético marxista, como método de análise teológico. Transforma-se a Teologia
numa crítica da sociedade e da própria Igreja. A Teologia se volta contra a
Religião.
e)
Como
consequência, se funda uma nova hermenêutica teológica totalmente antibíblica.
Note-se que a hermenêutica genuinamente cristã parte da Escritura. É a
Escritura que narra os fatos teológicos ao teólogo cristão. É a Bíblia que fixa
o objeto e o ângulo da análise teológica e, portanto, as circunscrições do
pensar teológico. O teólogo bíblico faz Teologia a partir da Bíblia e não
contra ela. Na absurda hermenêutica da Teologia da Libertação, o suposto
teólogo se ocupa dos fatos sociais e dos conflitos de classes, mas não dos
fatos bíblicos. Não há, em suma, verdadeira Teologia, mas apenas uma teologia
de fachada, para legitimar dentro da Igreja a Revolução Cultural Comunista.
f)
A
seguir, a ação humana é revestida de um caráter escatológico: o homem dá
sentido à história quando age para transformar (práxis) o
"injusto" mundo em que vive, ou seja, a “redenção” do mundo cabe à
ação revolucionária do homem[5].
g)
A
propaganda comunista veiculada na Teologia da Libertação ensina ainda, com
certo otimismo que, por meio dessa ação humana, o homem materializa o Reino de
Deus na Terra. Resumindo em miúdos, para o milicrente revolucionário libertino
a Grande Comissão não tem nada a ver com pregar o Evangelho de Salvação a toda
criatura, mas sim com a militância política em prol da causa comunista.
h)
A
Bíblia, ao contrário da cosmovisão da Teologia da Libertação, adverte que o
mundo jaz no maligno[6], e
que a Deus pertence o controle da história, dos seus tempos e estações[7]. É
Deus, como Criador, que estabelece os rumos da História, bem como o sentido do
seu percurso.
i) Por fim se diz que enquanto a igreja seguia a ortodoxia cristã, não teria feito nada de proveitoso para alcançar um mundo melhor. Por esse motivo, o teólogo da libertação postula uma tal ortopraxia como novo paradigma de ação eclesiástica. Como age de má-fé um sujeito desses: o mundo atual, democrático, próspero e civilizado, é exatamente o fruto social do Cristianismo fundado na ortodoxia. Todos os bons valores que hoje são defendidos e existem, surgem da ortodoxia cristã. É esse mesmo mundo que eles querem destruir a todo custo.
Agora que ficou entendido que na Teologia da Libertação só é
possível ter como objeto a “...reflexão crítica da práxis histórica”,
exatamente porque não há Teologia alguma, vamos avançar para analisar como fica
a questão do pecado.
3.
O
Pecado e o Amor - A palavra “pecado” foi meticulosa
e estrategicamente evitada e, quando finalmente apareceu na página 42, foi
somente para receber, assim como aconteceu com a Teologia, o seu novo conceito.
Outrora significava “errar o alvo, desobedecer à vontade de Deus”, mas dentro
da Teologia da Libertação, o pecado “...é um fechamento egoístico em si mesmo.
Pecar é, com efeito, negar-se a amar os demais, por conseguinte, ao próprio
Senhor". Uma vez livre desse pecado, o suposto cristão é livre para amar,
não somente o que é bom, como também tudo o que há no mundo[8].
4.
É
óbvio que esse risível conceito de pecado não serve como descritivo da
realidade do pecado. Mas vejamos melhor as suas partes:
a)
Primeiro,
ele se baseia supostamente no amor. Mas esse “amor” não é o perfeito amor
cristão, que é essencialmente o amor ao que é bom, e logicamente, o ódio ao que
é mal (Vide Pv. 8:13). Amamos o nosso próximo porque ele é a boa imagem
e semelhança divina e, odiamos as condutas más, sejam nossas ou do nosso
próximo, precisamente porque não são boas.
b)
O
amor desejado na Teologia da Libertação é irresponsável e libertino, não se
harmoniza com o perfeito amor. O amor ágape, divino e perfeito, exige o
cumprimento dos seus deveres: “Aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse
é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me
revelarei a ele.” João, 14:21.
c)
O
pecado de não amar ao próximo, de fato, é a raiz de muitos males, mas até uma
criança sabe que amar o outro não significa aceitar os seus erros e nem
compactuar com eles. Não há nenhuma boa intenção nesse tipo de amor. O “amor”
da Teologia da Libertação não tem compromisso com a obediência à Palavra de
Deus, precisamente, porque não tem amor pela Lei de Deus.
d)
A
verdade é que esse discursinho meloso de amor, esconde a mais perversa sede de
poder e totalitarismo. No fundo os teólogos da libertação odeiam e censuram aqueles
que não concordam com as suas ilusões.
e)
Por
fim, esse amor não é direcionado propriamente ao próximo e a Deus, mas sim à
causa revolucionária. Ocorre na Teologia da Libertação uma substituição dos
objetos amados. No amor bíblico, se ama à Deus e ao próximo, mas na Teologia da
Libertação, amar a Deus e ao próximo é estar comprometido com a Revolução. O
ódio bíblico é direcionado a todo tipo de pecado e maldade, mas o ódio na
Teologia da Libertação se volta contra tudo aquilo que é contra a Revolução.
f)
O
amor à causa Comunista é tão grande que tudo lhe é submetido: Deus, a Bíblia, a
Teologia, o Cristianismo etc., tudo, absolutamente tudo, por causa do amor ao
Comunismo deve falar a língua da Revolução e se submeter a ela.
g)
Esse
falso amor busca arregimentar o outro, apenas, para militar na causa comunista
e, como a prioridade é ter militantes, pouco importa a condição espiritual
daquele a quem se busca. Aliás, quanto mais degradado o militante estiver,
tanto mais será eficaz na luta pela causa.
5.
Conclusões – Inicialmente, quanto à leitura do livro, só é recomendada como
teste para averiguar a sanidade mental: se você conseguir discordar de cada uma
das ideias absurdas expostas ali, a sua mente estará em um juízo aceitável.
6.
A Teologia da Libertação, ao fim das contas,
não tem nada de Teologia e muito menos de Libertação. É pura e simplesmente o
velho e moribundo Marxismo adornado com alguns termos religiosos para lhe dar
alguma deferência. Como construção científica, lógica ou filosófica, a pretensa
teologia tem a consistência de uma bolha de sabão.
7.
Ela
não busca nenhum objetivo genuinamente cristão: não busca a salvação da alma
humana do poder do pecado; não exige o novo nascimento; nem arrependimento
sincero; não exige santidade aos crentes; transforma a Grande Comissão em
campanha revolucionária comunista e dessacraliza a Obra de Deus[9].
8.
É
uma peça de propaganda comunista, no sentido mais esculhambado do termo. Ela
entra em conflito permanente e inconciliável com o texto bíblico, não havendo
outra saída aos seus sectários senão pinçar os textos da Escritura que lhes
agradem e distorcer os demais.
9.
Quanto
aos pastores, padres e teólogos que são levados por essa ideologia, eles
abandonam o ofício sagrado que o Senhor lhes incumbiu, e tornam-se simples
militantes de uma causa que já tragou a vida de mais de 100 milhões de pessoas
mundo afora.
10.
De
resto, não há como entender esse tipo amor que é pregado na Teologia da
Libertação. Amor que, quando se concretiza, mata, persegue, fecha igrejas, e
comete outras tantas atrocidades. Em verdade, a única forma de o compreender,
ao fim, é como um amor pelo avesso, o mesmo amor com que um demônio amaria.
11.
Que
Deus liberte definitivamente o Brasil da Teologia da Libertação.
[1]
GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação. Perspectivas. 6ª Ed. Trad.
Jorge Soares. Vozes, Petrópolis. 1986.
[2]
Nesse sentido: “Seja como for, de fato, a teologia contemporânea acha-se em
inesquivável e fecunda confrontação com o marxismo. E em grande parte
estimulado por ele é que, apelando para suas próprias fontes, orienta-se o
pensamento teológico para uma reflexão sobre o sentido da transformação deste
mundo e sobre a ação do homem na história”, p. 22.
[3]
Note-se que “um pensamento crítico de si mesmo e de seus próprios fundamentos” não
é tarefa teológica, e sim filosófica. A Teologia estuda Deus e a história da
salvação. A crítica radical teológica não pode ser feita pela própria Teologia,
pois a Teoria da Ciência é eminentemente filosófica, vide HUSSERL,
Edmund. Investigações Lógicas. Prolegômenos à Lógica Pura. Vol. 1. Trad.
Diogo Ferrer. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.
[4]
Nesse mesmo sentido Gustavo Gutiérrez aduz: “Teologia que não se limita a
pensar o mundo, mas procura situar-se como um momento do processo através do
qual o mundo é transformado”. Isto é descaradamente o objetivo da própria
Filosofia marxista segundo a qual “Os filósofos têm apenas interpretado o
mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo”. Vide,
MARX, Karl. Teses Sobre Feuerbach. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm
[5]
Tal fato implica em uma nova concepção da História, conforme se percebe aqui:
“Conceber a história como processo de libertação do homem é perceber a
liberdade como conquista histórica, é compreender que a passagem de uma
liberdade abstrata a uma liberdade real não se realiza sem luta (...) contra
tudo o que oprime o homem. Este fato implica não apenas melhores condições de
vida, radical mudança de estruturas, revolução social, mas muito mais: a
criação contínua e sempre inacabada de nova maneira de ser do homem, uma permanente
revolução cultura”, p. 40.
[6]
1 Jo 5:19 “Estamos cientes de que somos de
Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno”.
[7]
Atos 1:7: “Ele lhes afirmou:
“Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai estabeleceu por sua
exclusiva autoridade”.
[8]
A Bíblia rechaça textualmente esse tipo de “amor”, em 1Jo 2: 15-17: “Não ameis o mundo nem o que nele
existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o
que há no mundo: as paixões da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos
bens não provém do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, assim como sua
volúpia; entretanto, aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente”.
[9]
No tópico denominado “O nível da reflexão teológica”, podemos constatar o
quanto este nível é baixo, ali, por exemplo, lemos um verdadeiro louvor ao
secularismo: “Neste sentido, a secularização (...) é um processo que não apenas
se amolda perfeitamente a uma visão cristã do homem, da história e dos cosmos,
mas ainda favorece maior plenitude da vida cristã, na medida em que oferece ao
homem a possibilidade de ser mais plenamente humano”, p. 65.
Uma análise digna de aplausos e confiança.
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