Nos artigos anteriores abordamos
duas formas através das quais se dá o relacionamento com Deus. Passemos agora à
análise da figura do Redentor e do redimido, ou Salvador e salvo. 
Tal percurso se mostra
proveitoso precisamente porque na sequência do livro de Gênesis esta é a imagem
que se nos aparece. Todos lembramos o episódio da Queda. Após esse infortúnio,
o homem se tornou carente de redenção e, já naquele momento, Deus a providenciou.
Ocorre que tal redenção se desenrolará no tempo, mesmo já tendo o seu plano
traçado na eternidade.
Notemos os desdobramentos
desta imagem. 
Em primeiro lugar, destacamos que a figura do Redentor deriva da natureza amorosa, santa e justa: amorosa, porque não podendo Ele aceitar a ruína da sua criação, providenciou-lhe a salvação; santa, pelo fato de a criação só lhe ser aceitável, se santificada e purificada de suas imundícies; justa, tendo em vista que a superveniência do pecado exige a sua reparação idônea.
Isto quer dizer que o seu
amor, a sua santidade e a sua justiça estão a guiar esse processo redentor. De
resto, sendo Ele amoroso, não haveria de abandonar o homem àquele estado
deteriorado, por outro lado, não poderia recompô-lo à sua total dignidade, sem
no mesmo ato cumprir aquilo que a sua justiça exige. Disto resulta a aplicação das
sanções cabíveis aos transgressores.
Além disso, percebemos que
desse amor, santidade e justiça, outros aspectos da obra redentora surgem, como, por exemplo, o fato de Deus nos amar de tal maneira ao ponto de entregar à
morte o seu próprio Filho por nós. Dentro desse quadro salvífico temos ainda a
justificação por meio da qual Ele nos concede a sua própria justiça em Cristo, para
voltarmos a Ele como justos; por fim, ele nos santifica com a sua própria
santidade. 
Recebemos, dessa forma, a
maior dádiva que Deus pode conceder, que foi a entrega de si mesmo para salvar
a humanidade, pois os céus e toda a herança que nos aguarda, não são maiores ou
comparáveis a Cristo. Ora, irradiando destas coisas, uma plêiade de outros
valores vão se somando, pois se Ele nos agracia, se nos santifica e justifica
do que sai dEle mesmo, certamente nos instrui com a sua própria sabedoria, ou seja, com a sua própria palavra; e nos purifica com a sua própria pureza, de
maneira que, o ato de redenção, está entranhado da noção de que Deus quem o efetiva
pela doação de si mesmo a nós.
Mas, e de nosso lado? Que parte
nos toca nesta relação? 
Primeiramente, nos cumpre
receber, aceitar, acatar, aquiescer, concordar, etc. São verbos passivos. Em nosso
estado de depravação, o que podemos fazer é receber sem oferecer resistência.
Eis nossa tarefa: entregar-se a esse amor-perfeito e aceitá-lo, entendendo que somente
Deus pode nos redimir de forma adequada, recolocando-nos em seu nível de perfeição
e aceitabilidade. 
De fato, o ser humano não tem
condições para fixar o que lhe é aceitável, santo ou justo; estes cânones
foram estabelecidos por Deus como Criador e Redentor. Com efeito, Ele não está
se intrometendo em nenhum assunto humano, antes tomou as rédeas de uma situação
que somente Ele pode resolver.
Desse modo, a redenção é uma atividade
própria de Deus, e cabe ao homem somente aceitá-la e vivenciá-la. Caso este não
a aceite, condena-se a si mesmo, pois é a sua liberdade moral que o assiste. Deus
fez o que não podíamos fazer: providenciou uma redenção que, não obstante, seja de
origem divina, pode ser vivida com as nossas limitações humanas. 
Em síntese, a redenção proposta
por Deus em Cristo, é a única idônea para ser efetivamente desfrutada pelo ser
humano, tanto porque nasce de Deus em Cristo, o varão perfeito, quanto porque se destina aos homens que devem chegar à medida da estatura desse homem
perfeito.

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