Prof. Wanderson Diego
Achei por bem fazer uma summa theologiae (síntese teológica) sobre este assunto tão profícuo à fé cristã. A saber, a triunidade divina. Ao fazermos um escrutínio histórico sobre a origem histórica deste termo, somos informados que o teólogo responsável pelo desenvolvimento desta expressão foi Tertuliano de Cartago. Por sua vez, Tertuliano denominou a Divindade usando a expressão latina trinitas e por conseguinte, esta nomenclatura tornou-se um aspecto característico da teologia cristã.
Apesar de outros teólogos terem explorado outros termos, a influência de Tertuliano foi preponderante ao ponto de sua classificação tornar-se normativa na igreja ocidental. Com o avanço da doutrina da triunidade, houve uma evolução teológica relacionada à Cristologia, pois elencou uma discussão sobre a natureza espiritual de Cristo. Por um lado, havia teólogos que defendiam que Cristo era “da mesma substância do Pai”, daí o surgimento da palavra grega homoousios que quer dizer “mesma substância”. Outrossim, havia teólogos que defendiam que Cristo não tinha a mesma substância do Pai, mas, sim, uma “substância similar”, daí deu origem a palavra grega homoiousios que significa “substância similar.”
No entanto, se Jesus era Deus, quais seriam as consequências dessa ideia em relação a Deus Pai? Se Jesus era Deus, porventura, agora, são dois deuses? Na verdade, esta pergunta está aquém da nossa capacidade cognitiva. Concordo com o teólogo Alister Mcgrath quando ele sugere que a doutrina da triunidade é uma “tentativa mais filosófica de conceber um Deus pessoal” (Teologia Sistemática, histórica e filosófica, pág.376).
Para Irineu, todo o processo de salvação, do começo ao fim, mostra a ação do Pai, Filho e Espírito Santo. Doravante, ele criou um termo técnico para especificar o relacionamento entre a triunidade chamando-o de “oikonomia da trindade”. Por sua vez, a expressão “oikonomia” significa "administração de negócios”. Em outras palavras, Irineu está querendo explicar que a nossa salvação foi “administrada” pelo Pai, Filho e Espírito Santo. O Pai planejou a salvação, o Filho consumou a salvação e o Espírito Santo dá continuidade na salvação. Indubitavelmente, é uma questão complexa de entender e isto gera muitas dúvidas no entendimento humano.
O pensamento majoritário entre os cristãos entende que, apesar da “mesma substância” unir as Três Pessoas da santíssima trindade, cada Pessoa é distinta e não independente uma da outra. Ou seja, cada uma é discreti non separati (distinta e inseparável). Até a segunda metade do século IV, o debate a respeito da relação entre o Pai e o Filho dava indícios de haver terminado. Entretanto, ainda havia linhas teológicas que faziam oposição à doutrina da trindade. Tais como o gnosticismo e o arianismo.
É importante destacar que o judaísmo ortodoxo não adere à ideia de haver uma trindade divina. Por isso, os fariseus foram ferrenhos opositores ao Messias. Os textos veterotestamentários que os cristãos concebem que seja indicação à Trindade, tais como (Is 6.3) e (Is 6.8) são para os judeus ortodoxos a indicação do “plural majestático” divino e não a uma trindade. Haja vista, o judaísmo é uma religião monoteísta absoluta.
No século IV, outra ideia surge no tocante ao entendimento sobre a trindade conhecida como “pericórese”. Esta expressão, por sua vez, traz uma ideia de uma “dança sincronizada”. Sendo assim, segundo este raciocínio teológico, há uma “sincronia” entre as Pessoas da Trindade. Ou seja, não há contradição e nem disparidade entre o Pai, Filho e o Espírito Santo. No entanto, no decorrer da história da teologia cristã, vários entendimentos surgiram a respeito da Trindade. Um dos mais conhecidos é o “Modalismo” ou “Sabelianismo” criado pelo teólogo Sabélio no século III.
Sabélio, vociferava dizendo que não havia Três Pessoas na Trindade, mas, sim, um Deus único que agiu e age em “três modos” diferentes. Em outras palavras, Sabélio ensinava que no Antigo Testamento, Deus agiu em modo de “Pai”, no Novo Testamento agiu no modo de “Filho” e logo após a ascensão do Filho, passou a agir no modo Espírito Santo. Entretanto, esta “doutrina” foi herética pelos pais da Igreja. O sabelianismo é conhecido também como: unicismo e patripassianismo.
Os unicistas hodiernos sustentam que a doutrina da Trindade foi uma "invenção" da Igreja Católica; por isso, deve ser “rejeitada”. Inclusive, há uma banda unicista famosa que muitos pentecostais “amam” cantar os seus “hinos”. Um dos argumentos mais utilizados pelos iniciadas é que não aparece a palavra “Trindade” na Bíblia e por isso deve ser descartada. Se partirmos da premissa que para existir alguma coisa tem de “aparecer na Bíblia”, então muitas coisas não deveriam existir. Por exemplo, não poderia existir “computador”, pois a palavra “computador” não aparece na Bíblia.
O fato da palavra “Trindade” não aparecer na Bíblia, não implica em dizer que ela não exista. A Bíblia apresenta Deus como uno (Dt 6.4) mas também apresenta Deus como trino (Mt 3.16). E esta realidade é um fato insofismável e irrefragável! Apesar de não entendermos esta doutrina em sua plenitude, ela é verdadeira, escriturística e límpida nas Sagradas Escrituras. “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês”. Amém! (ICo 13.14).
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