sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Pedagogia do Oprimido: breves considerações sobre o livro de Paulo Freire

                                                                                                   Por Natan Costa Rodrigues


Imbuído de uma forte convicção na veracidade dos postulados marxistas e, portanto, revelando uma incapacidade de criticá-los e pô-los à prova um só momento, Paulo Freire, decide deixar a sua contribuição ao avanço da revolução dos oprimidos, aqui substitutos dos proletários. Obviamente que não se trata da Revolução marxista clássica, vestida de armas e tanques de guerra, mas sim da Revolução Permanente e Cultural inaugurada por Antonio Gramsci e potencializada em seu veneno, pela Escola de Frankfurt.

 

Freire, seguindo a tônica de ocupação de espaços culturais, observa que a seara da Educação, amplamente organizada, com salas de aulas aos milhares, cheias de mentes predispostas ao aprendizado, é um campo fértil para a implantação de uma Pedagogia serva da causa revolucionária.

 

Ora, afirmo isto, não porque em tudo eu esteja vendo o marxismo, mas sim porque Paulo Freire escreve como um estrategista determinado a encher todos os guetos culturais com a reflexão revolucionária. Ele é decididamente um intelectual do Partido.

 

A fim de ser fiel ao pensamento do autor, e assim extrair a suma do seu entendimento, vamos intercalar a nossa impressão do texto com fragmentos do próprio Freire que inicialmente explicará em que consiste o projeto desta Ideologia, ou melhor, Pedagogia. Diz ele:

 

Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará[1].

Adiante, ele diz: “Ao fazermos estas considerações, outra coisa não estamos tentando senão defender o caráter eminentemente pedagógico da revolução[2].

 

Parece muito claro, que à semelhança da suposta Teologia da Libertação[3], o propósito aqui também não é o que o nome parece indicar, isto é, a educação em si, mas sim a causa revolucionária. Paulo Freire não esconde a filiação da sua Pedagogia do Oprimido com a causa histórica dos comunistas:

 

Se os líderes revolucionários de todos os tempos afirmam a necessidade do convencimento das massas oprimidas para que aceitem a luta pela libertação – o que de resto é óbvio – reconhecem implicitamente o sentido pedagógico desta luta. Muitos, porém, talvez por preconceitos naturais e explicáveis contra a pedagogia, terminam usando, na sua ação, métodos que são empregados na “educação” que serve ao opressor. Negam a ação pedagógica no processo de libertação, mas usam a propaganda para convencer...[4]


Ele propõe que se abandone a propaganda política como forma de convencimento das massas oprimidas e se utilize, oportunamente, a prática docente, que ele denomina de “ação pedagógica”, entendida, dessa forma, como um componente da praxis marxista e como motor mais efetivo de doutrinação. Vejamos:

 

Não há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora, em que a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e continuar mantendo-os como quase “coisas”, com eles estabelece uma relação dialógica permanente[5].

A mim parece claro, que esse “bondoso” trabalho da “liderança revolucionária”, ou seja, dos professores, há se dar em sala de aula. E me parece, mais claro ainda, que esse trabalho possui como propósito direto o convencimento e o convertimento dos educandos em militantes revolucionários. Ao menos é o que o próprio Freire diz:

Reconhecemos que, na superação da contradição opressores-oprimidos, que somente pode ser tentada e realizada por estes, está implícito o desaparecimento dos primeiros, enquanto classe que oprime[6].

Quanto à identificação dos professores com os revolucionários, é questão que o Paulo Freire não deixa dúvidas. O verdadeiro professor é o revolucionário. Ele diz: “Para o educador humanista ou o revolucionário autêntico a incidência da ação é a realidade a ser transformada por eles com os outros homens e não estes”[7].

Neste como em outros trechos os termos “liderança revolucionária” “educador problematizador”, “educador humanista” e outros, são perfeitamente intercambiáveis e se referem à mesma pessoa: ao professor.

Creio que isto é o bastante para desvelar a verdadeira face do projeto pedagógico de Paulo Freire, que de “Pedagogia” só tem mesmo o nome.

Voltemos a atenção, entretanto, para o elemento subjetivo da coisa. Afinal, assim como ocorreu com a Teologia da Libertação, vamos encontrar aqui altas doses daquele “amor” às avessas. Vejamos:

Na verdade, porém, por paradoxal que possa parecer, na resposta dos oprimidos à violência dos opressores é que vamos encontrar o gesto de amor. Consciente ou inconscientemente, o ato de rebelião dos oprimidos, que é sempre tão ou quase tão violento quanto a violência que os cria, este ato dos oprimidos, sim, pode inaugurar o amor[8].

O ato de rebelião dos oprimidos, que significa na prática, a pura e simples, instauração de uma Ditadura Comunista, é um “gesto de amor” e “inaugura o amor”.

Lembro-me, nessa senda, quase indo às lágrimas, do quão amoroso foi Mao Tsé- Tung ao matar em uma década cerca de 30 milhões de chineses no Regime Comunista, ou ainda, o grandíssimo e benevolente ato de amor de Stálin ao deixar morrer de fome 10 milhões de ucranianos em um inverno, isso para não falar dos estupros, fuzilamentos, campos de concentração, entre outros grandes momentos de expressão amorosa provenientes do “ato de rebelião”.

Creio que esses “gestos de amor” são maiores quanto maiores forem os números de mortes e vítimas. Eis a razão do porquê termos chamado esse amor de demoníaco.

Conclusões

Ao ler o livro não encontrei outras coisas dignas de menção além destas. Afinal se o que interessa é expor a realidade das coisas, o que acima foi exposto, de fato, é a realidade da Pedagogia do Oprimido, ou seja, é o puro aparelhamento da estrutura pedagógica do Estado para disseminação dos ideais comunistas e formação de militantes.

Não há, na Pedagogia do Oprimido, absolutamente nenhum compromisso com a educação dos alunos ou com a aquisição, por eles, dos conhecimentos tradicionais, presentes nos currículos escolares. A questão é simples: à Pedagogia do Oprimido, interessa, não a formação escolar do educando, mas a sua transformação em um homem revolucionário.

Assim, constatei que a denunciada “doutrinação comunista” que ocorreria nas escolas é verdadeira sim. E cumpre asseverar que ela não ocorre por acidente, mas sim por um profundo comprometimento dos professores, ou para usar a terminologia de Freire, da “liderança revolucionária”, com a transformação dos alunos em militantes da causa.

O livro promete muito, mas ao espremê-lo, ele entrega somente o bolorento e estragado marxismo.

No que tange a consistência teórica ou filosófica da Pedagogia do Oprimido, deve-se admitir que Freire é mais criativo que o fundador da Teologia da Libertação. Mas, tão logo nos aplicamos a análise detida e crítica de qualquer de suas afirmações, constatamos a ocorrência de um simples palavrório, no mais das vezes, destituído de qualquer conteúdo verificável. É dizer: teoricamente é apenas marxismo mesmo, com as suas fragilidades teóricas historicamente já refutadas, apenas adaptadas à realidade da sala de aula.

Quanto à Pedagogia em si, desnecessário dizer que não há nenhuma ideia que seja aproveitável. A concepção de “educação bancária”, por exemplo, chega a impressionar em um momento inicial, mas quando a enxergamos de perto, vemos tratar-se apenas de mais um ardil que esconde o expediente da doutrinação já denunciada.

Paulo Freire mostrou-se um perfeito agente da revolução cultural gramsciana. Não me parece que seja um pedagogo e muito menos um filósofo, é só um revolucionário oportunista e esperto, que viu nas salas de aulas o lugar perfeito para levar cativo o entendimento das massas à causa do Partido.

Por fim, o maior teste para qualquer teoria, são os seus frutos na história. Neste quesito, após a entronização da Pedagogia do Oprimido como política de educação nacional, observou-se como esta falhou miseravelmente: nossos estudantes amargam os últimos lugares nos rankings internacionais[9], possuindo altas taxas de analfabetismo funcional[10] etc.

De resto, a verdadeira tragédia que se abateu sobre a Pedagogia brasileira, foi o surgimento da Pedagogia do Oprimido.



[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. p. 20;

[2] Op. Cit. p. 35;

[3] O artigo sobre Teologia da Libertação pode ser conferido aqui: https://natanrodriguesadv.blogspot.com/2023/11/uma-adaptacao-crista-da-revolucao.html

[4] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. p. 35;

[5] Op. Cit., p. 28.

[6] Op. Cit., p. 28.

[7] Op. Cit., p. 54.

[8] Op. Cit., p. 28.

[9] Veja isto: https://www.abe1924.org.br/56-home/257-brasil-fica-em-penultimo-lugar-em-ranking-global-de-qualidade-de-educacao#:~:text=Alemanha%20(15)%2C%20Estados%20Unidos,integram%20as%20posi%C3%A7%C3%B5es%20mais%20baixas.

[10] https://www.tce.ms.gov.br/noticias/artigos/detalhes/6769/o-nosso-dever-de-casa

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