Por Natan Costa Rodrigues
Imbuído de uma forte convicção na
veracidade dos postulados marxistas e, portanto, revelando uma incapacidade de
criticá-los e pô-los à prova um só momento, Paulo Freire, decide deixar a sua
contribuição ao avanço da revolução dos oprimidos, aqui substitutos dos
proletários. Obviamente que não se trata da Revolução marxista clássica,
vestida de armas e tanques de guerra, mas sim da Revolução Permanente e
Cultural inaugurada por Antonio Gramsci e potencializada em seu veneno, pela
Escola de Frankfurt.
Freire, seguindo a tônica de
ocupação de espaços culturais, observa que a seara da Educação, amplamente
organizada, com salas de aulas aos milhares, cheias de mentes predispostas ao
aprendizado, é um campo fértil para a implantação de uma Pedagogia serva da
causa revolucionária.
Ora, afirmo isto, não porque em tudo eu esteja vendo o marxismo, mas sim porque Paulo Freire escreve como um estrategista determinado a encher todos os guetos culturais com a reflexão revolucionária. Ele é decididamente um intelectual do Partido.
A fim de ser fiel ao pensamento do
autor, e assim extrair a suma do seu entendimento, vamos intercalar a nossa
impressão do texto com fragmentos do próprio Freire que inicialmente explicará
em que consiste o projeto desta Ideologia, ou melhor, Pedagogia. Diz ele:
Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará[1].
Adiante, ele diz: “Ao fazermos estas considerações, outra coisa não
estamos tentando senão defender o caráter eminentemente pedagógico da
revolução”[2].
Parece muito
claro, que à semelhança da suposta Teologia da Libertação[3], o
propósito aqui também não é o que o nome parece indicar, isto é, a educação em
si, mas sim a causa revolucionária. Paulo Freire não esconde a filiação da sua
Pedagogia do Oprimido com a causa histórica dos comunistas:
Se os líderes revolucionários de
todos os tempos afirmam a necessidade do convencimento das massas oprimidas
para que aceitem a luta pela libertação – o que de resto é óbvio –
reconhecem implicitamente o sentido pedagógico desta luta. Muitos, porém,
talvez por preconceitos naturais e explicáveis contra a pedagogia, terminam
usando, na sua ação, métodos que são empregados na “educação” que serve ao
opressor. Negam a ação pedagógica no processo de libertação, mas usam
a propaganda para convencer...[4]
Ele propõe que
se abandone a propaganda política como forma de convencimento das massas
oprimidas e se utilize, oportunamente, a prática docente, que ele denomina de
“ação pedagógica”, entendida, dessa forma, como um componente da praxis
marxista e como motor mais efetivo de doutrinação. Vejamos:
Não
há outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora, em que
a liderança revolucionária, em lugar de se sobrepor aos oprimidos e
continuar mantendo-os como quase “coisas”, com eles estabelece uma
relação dialógica permanente[5].
A mim parece
claro, que esse “bondoso” trabalho da “liderança revolucionária”, ou seja, dos
professores, há se dar em sala de aula. E me parece, mais claro ainda, que esse
trabalho possui como propósito direto o convencimento e o convertimento dos
educandos em militantes revolucionários. Ao menos é o que o próprio Freire diz:
Reconhecemos que, na superação da contradição opressores-oprimidos,
que somente pode ser tentada e realizada por estes, está implícito o desaparecimento
dos primeiros, enquanto classe que oprime[6].
Quanto à
identificação dos professores com os revolucionários, é questão que o Paulo
Freire não deixa dúvidas. O verdadeiro professor é o revolucionário. Ele diz: “Para
o educador humanista ou o revolucionário autêntico a incidência
da ação é a realidade a ser transformada por eles com os outros homens e não
estes”[7].
Neste como em
outros trechos os termos “liderança revolucionária” “educador problematizador”,
“educador humanista” e outros, são perfeitamente intercambiáveis e se referem à
mesma pessoa: ao professor.
Creio que isto
é o bastante para desvelar a verdadeira face do projeto pedagógico de Paulo
Freire, que de “Pedagogia” só tem mesmo o nome.
Voltemos a atenção, entretanto, para o elemento subjetivo da coisa.
Afinal, assim como ocorreu com a Teologia da Libertação, vamos encontrar aqui
altas doses daquele “amor” às avessas. Vejamos:
Na verdade, porém, por paradoxal que possa parecer, na resposta
dos oprimidos à violência dos opressores é que vamos encontrar o gesto de
amor. Consciente ou inconscientemente, o ato de rebelião dos
oprimidos, que é sempre tão ou quase tão violento quanto a violência que os
cria, este ato dos oprimidos, sim, pode inaugurar o amor[8].
O ato de rebelião dos oprimidos, que significa na prática, a pura e
simples, instauração de uma Ditadura Comunista, é um “gesto de amor” e
“inaugura o amor”.
Lembro-me, nessa senda, quase indo às lágrimas, do quão amoroso foi
Mao Tsé- Tung ao matar em uma década cerca de 30 milhões de chineses no Regime
Comunista, ou ainda, o grandíssimo e benevolente ato de amor de Stálin ao
deixar morrer de fome 10 milhões de ucranianos em um inverno, isso para não
falar dos estupros, fuzilamentos, campos de concentração, entre outros grandes
momentos de expressão amorosa provenientes do “ato de rebelião”.
Creio que esses “gestos de amor” são maiores quanto maiores forem os
números de mortes e vítimas. Eis a razão do porquê termos chamado esse amor de
demoníaco.
Conclusões
Ao ler o livro não encontrei outras coisas dignas de menção além destas.
Afinal se o que interessa é expor a realidade das coisas, o que acima foi
exposto, de fato, é a realidade da Pedagogia do Oprimido, ou seja, é o
puro aparelhamento da estrutura pedagógica do Estado para disseminação dos
ideais comunistas e formação de militantes.
Não há, na Pedagogia do Oprimido, absolutamente nenhum compromisso
com a educação dos alunos ou com a aquisição, por eles, dos conhecimentos tradicionais,
presentes nos currículos escolares. A questão é simples: à Pedagogia do
Oprimido, interessa, não a formação escolar do educando, mas a sua
transformação em um homem revolucionário.
Assim, constatei que a denunciada “doutrinação comunista” que ocorreria
nas escolas é verdadeira sim. E cumpre asseverar que ela não ocorre por
acidente, mas sim por um profundo comprometimento dos professores, ou para usar
a terminologia de Freire, da “liderança revolucionária”, com a transformação
dos alunos em militantes da causa.
O livro promete muito, mas ao espremê-lo, ele entrega somente o
bolorento e estragado marxismo.
No que tange a consistência teórica ou filosófica da Pedagogia do
Oprimido, deve-se admitir que Freire é mais criativo que o fundador da Teologia
da Libertação. Mas, tão logo nos aplicamos a análise detida e crítica de
qualquer de suas afirmações, constatamos a ocorrência de um simples palavrório,
no mais das vezes, destituído de qualquer conteúdo verificável. É dizer:
teoricamente é apenas marxismo mesmo, com as suas fragilidades teóricas
historicamente já refutadas, apenas adaptadas à realidade da sala de aula.
Quanto à Pedagogia em si, desnecessário dizer que não há nenhuma
ideia que seja aproveitável. A concepção de “educação bancária”, por exemplo,
chega a impressionar em um momento inicial, mas quando a enxergamos de perto,
vemos tratar-se apenas de mais um ardil que esconde o expediente da doutrinação
já denunciada.
Paulo Freire mostrou-se um perfeito agente da revolução cultural
gramsciana. Não me parece que seja um pedagogo e muito menos um filósofo, é só
um revolucionário oportunista e esperto, que viu nas salas de aulas o lugar
perfeito para levar cativo o entendimento das massas à causa do Partido.
Por fim, o maior teste para qualquer teoria, são os seus frutos na
história. Neste quesito, após a entronização da Pedagogia do Oprimido como
política de educação nacional, observou-se como esta falhou miseravelmente:
nossos estudantes amargam os últimos lugares nos rankings internacionais[9],
possuindo altas taxas de analfabetismo funcional[10] etc.
De resto, a verdadeira tragédia que se abateu sobre a Pedagogia brasileira,
foi o surgimento da Pedagogia do Oprimido.
[1]
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1987. p. 20;
[2] Op.
Cit. p. 35;
[3] O
artigo sobre Teologia da Libertação pode ser conferido aqui: https://natanrodriguesadv.blogspot.com/2023/11/uma-adaptacao-crista-da-revolucao.html
[4] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. p. 35;
[5] Op. Cit., p. 28.
[6] Op. Cit., p. 28.
[7] Op. Cit., p. 54.
[8] Op. Cit., p. 28.
[9] Veja
isto: https://www.abe1924.org.br/56-home/257-brasil-fica-em-penultimo-lugar-em-ranking-global-de-qualidade-de-educacao#:~:text=Alemanha%20(15)%2C%20Estados%20Unidos,integram%20as%20posi%C3%A7%C3%B5es%20mais%20baixas.
[10] https://www.tce.ms.gov.br/noticias/artigos/detalhes/6769/o-nosso-dever-de-casa
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