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O Cristianismo do Futuro: Ou o Futuro sem Cristianismo

                                                                                                   Por Natan Costa Rodrigues


Entre as muitas propriedades da realidade, se encontra a de que todos os seus dados estão concatenados e interligados, ou seja, a afirmação de um, pressupõe e justifica a existência dos outros. O filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos ao forjar o seu método de análise denominado de Filosofia Concreta tinha em vista precisamente esse dado importante.

A concretude filosófica, pontificava ele, consiste na capacidade de apreender os dados da experiência sensível em sua concreção, do latim, com crescio, “que cresce junto”. Isto significa que a compreensão exata da realidade é aquela que leva em conta, na análise e na síntese, todos os elementos que permitem que um dado elemento se concretize. Em sentido contrário, qualquer análise da realidade, que se diga precisa, mas retira dela, partes cruciais, está fadada ao fracasso epistemológico. Isto é básico e elementar.

Mesmo com toda evidência dessas constatações, fato é que boa parte das ciências atuais, em razão de valores questionáveis, estão amputando de seus campos de análises fatos de extrema relevância. O resultado são produções artificiais e pueris, sem nenhuma significação real para a sociedade. Transmuda-se isto em um sentimento de frustração crescente, pois quanto mais a ciência progride, tanto mais se faz sentir um empobrecimento intelectual e espiritual nas massas.

Quando esses fatos ignorados estão umbilicalmente ligados ao Cristianismo, ou seja, são fatos da religião cristã, a coisa piora, pois além de não serem considerados em qualquer análise científica formal, eles ainda são reputados como dados sem cientificidade alguma, fruto de mentes fracas, iludidas, carentes e retrógradas.

Um olhar mais atento nas periferias desse quadro permite entrever outras coisas no mínimo curiosas. Considere-se, por exemplo, uma certa entrevista em que um afamado pastor defende o comportamento homossexual, ensinando que “onde há amor não há pecado” e que Deus está onde as pessoas são honestas, boas, e se amam.

Obviamente que não se questiona aqui o livre curso que cada um pode emprestar à sua vida, o que inclui a sua sexualidade, mas chega a ser surpreendente que alguém, mesmo um homossexual, acredite sinceramente, que argumentos como esses, possam de alguma forma, lhe defender.

O argumento exposto é de uma infantilidade e ingenuidade gritantes, visto que a reprovabilidade bíblica da conduta homossexual, em nada se deve ao amor que existe entre os parceiros, mas sim ao fato do comportamento, objetivamente considerado, ser “contrário à natureza” no dizer do apóstolo São Paulo. Outrossim, se a presença do amor legitima tudo, o amor ao dinheiro e ao lucro seriam corretos. E isso para não mencionar outros amores que existem por aí...

Mas a falácia do argumento reside principalmente em ignorar que a realidade natural e física carrega propósitos divinos. Se se desconecta o propósito divino da criação, sobra só a matéria e não havendo mais nenhum sentido, tudo pode ser feito com ela e por meio dela. Surge assim, uma religião materialista e hedonista, onde o Deus bíblico é substituído por um deus despojado de santidade, complacente com os desejos e caprichos mais banais de cada indivíduo.

Ultrapassando essa questão, as considerações feitas pelo dito pastor apontam ainda para uma outra realidade, para ser mais exato, para um outro cristianismo. É que ela se insere dentro de um movimento maior, no qual o cristianismo, já banido do reino das ciências, foi recapturado para o reino da militância política e, sendo dessacralizado, foi constituído na religião pagã dos militantes e revolucionários.

É óbvio que esse “cristianismo” não resiste a nenhum confronto com as escrituras sagradas. Tão flagrante é o divórcio entre eles, que dificilmente se utiliza de algum texto bíblico para embasá-lo, exceto as partes que falam em “amor”.

Desse modo, à semelhança do que a ciência fez com a realidade, eles fazem com a Bíblia: descartam o que julgam ser primitivo, contrarrevolucionário e ultrapassado, e tomam somente o que consideram está de acordo com os “novos tempos”.

Enlevados por esse espírito de evolução social, esse sentimento de que a Bíblia, em sua inteireza, já não serve mais, de que as partes “discriminatórias e preconceituosas” da Escritura devem ser banidas, os pastores e teólogos militantes, tem empreendido uma verdadeira cruzada contra a ortodoxia cristã. Onde encontram um rastro da justiça e santidade divina, eles logo tratam de profanar.

A realidade do texto Bíblico é retalhada e dissecada. A interpretação autêntica da escritura, na qual ela própria se esclarece é deixada de lado, para dar lugar ao puro e simples arbítrio do intérprete. Se a ciência parcial nega a realidade que vê, o militante travestido de cristão, faz pior, nega a suficiência da Revelação e a clareza do texto sagrado, para afirmar a sua própria ideia, o seu próprio desejo.

Julgam com isto forjar um cristianismo do futuro, uma religião adequada para gerações mais “democráticas” e tolerantes; para gerações dóceis e voláteis. No entanto, esse caminho largo e frouxo, não é de modo algum, o caminho para o Deus bíblico ou para Cristo, é antes de tudo, o rumo para uma vida sem o verdadeiro Jesus, e um futuro social sem nenhum resquício do genuíno cristianismo: um perfeito enredo para um fracasso geral.

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